Sinopse: Os Estados Unidos e o Canadá já não existem: eles foram substituídos pela poderosa ONAN, a Organização de Nações Norte Americanas. Uma enorme porção do continente se tornou um depósito de lixo tóxico. Separatistas quebequenses praticam atos terroristas e a contagem dos anos foi vendida às grandes corporações. Graça infinita foi o último grande romance do século XX e, como o Ulysses de James Joyce, teve um impacto duradouro e ainda difícil de ser aferido. Ora cômico, ora doloroso, ele encapsulou uma geração ligada à ironia e ao entretenimento, mas desconectada da imaginação, da solidariedade e da empatia. No romance, seguimos os passos dos irmãos Hal, Orin e Mario Incandenza — membros da família mais disfuncional da literatura contemporânea —, conforme tentam dar conta do legado do patriarca James Incandenza, um cientista de óptica que se tornou cineasta e cometeu suicídio depois de produzir um misterioso filme que, pela alta voltagem de entretenimento, levava seus espectadores à inanição e à morte. Enquanto organizações governamentais e terroristas querem usar o filme como arma de guerra, os Incandenza vão se embrenhar numa cômica e filosófica busca pelo sentido da vida.
Nacionalidade do autor:
Ano da publicação do texto: 1996
Fui levado a ler esse livro pela grande curiosidade que surgiu após ler alguns comentários que explicavam (ao menos tentavam) sobre o que ele tratava, qual era sua história. E a verdade é que essa história foi me parecendo cada vez mais original e intrigante, ainda que a imagem que eu fui formando sobre o livro fosse, na verdade, um grande quebra-cabeça, com inúmeras peças faltando. Bom, a única forma de montar esse quebra-cabeça era ler o livro. E que livro. Foi uma graça infinita ter a oportunidade de ler essa obra-prima.
É verdade que as mais de mil páginas assustam? É. É verdade que tem mais de 200 páginas de notas e algumas delas são bem enfadonhas? É. É verdade que o começo é um tanto quanto confuso, que o autor usa e abusa de siglas e que a construção da história é não linear? É. Então o livro é chato pra caramba? Nem a pau.
Tomando como principais ambientes uma academia de tênis para crianças e jovens, uma casa de recuperação para dependentes químicos e as movimentações de um grupo terrorista cujos integrantes são violentos cadeirantes, Wallace traça uma história distópica extremamente original, mas cujo ponto forte são as reflexões sobre temas profundos que permeiam a vida dos personagens. Por exemplo, talvez a melhor descrição sobre o pensamento de suicídio esteja nesse livro. É tudo muito convincente e visceral, lembrando que Wallace se suicidou. Outro exemplo é uma discussão que ocorre sobre o quão benéfico é a liberdade que as pessoas têm para buscar maximizar seu prazer. E se o prazer for mortal, como é o caso do filme que dá nome ao título do livro? Estaria a filosofia utilitarista que serve de fundação para as relações sociais, econômicas e até culturais dos EUA e de grande parte do Ocidente fadada ao fracasso lógico e moral?
Enfim, qualquer resenha para esse livro será sempre muito grande pela quantidade de conteúdo que ele apresenta e pelo que pode ser discutido, mas também sempre será muito curta, de forma a não conseguir passar nem uma minúscula parte do que esse livro entrega na experiência de sua leitura. Então fico por aqui. Só resta dizer que é realmente uma graça infinita ler esse livro. Provavelmente, meu livro favorito de todos os tempos.
Bônus: videoclip da música Calamity Song, da banda The Decemberists. O clip é baseado no livro, mais especificamente, no jogo Eschaton inventado pela molecada da academia de tênis.