Sinopse: O leilão do lote 49 , segundo romance de Thomas Pynchon, um dos mais inventivos escritores norte-americanos, é um hilariante mergulho, repleto de surpresas, na subcultura da Califórnia em plena década de 60, entremeado de alusões à cultura de massa e à história européia. Édipa Maas, a protagonista, é surpreendida ao ser designada inventariante no testamento de um riquíssimo ex-namorado; ao começar a desvendar seus negócios, ela se vê envolvida no que parece ser um misterioso complô internacional, que se complica à medida que fatos e personagens cada vez mais bizarros se sucedem e se encaixam como as peças de um delirante quebra-cabeças.
Nacionalidade do autor:
Ano da publicação do texto: 1966
É extremamente difícil descrever e avaliar a experiência de ler O Leilão do Lote 49. A primeira sensação ao terminar o livro é de que acabei de “ler” um filme de David Lynch. Para quem não conhece o diretor de cinema, a maioria dos seus filmes é consagrada pela mistura de realidade, sonhos e alucinações, e são exatamente esses elementos que este livro traz à tona, embora em uma mídia diferente.
O início da história tem um pressuposto bem simples: a protagonista, Édipa, recebe a missão de organizar o inventário do espólio de seu antigo companheiro amoroso, o falecido Inverarity, dono de praticamente tudo na cidade de San Narcisa, na Califórnia. Ela vai até San Narcisa para resolver isso e, daí pra frente, a história se desenrola da forma mais alucinante possível, em um misto de personagens e acontecimentos bizarros, envolvendo uma possível conspiração sobre a existência de uma companhia misteriosa de envios postais, que remonta do período renascentista.
Acredito que o ponto do livro é justamente o que ele oferece em termos de experiência de leitura, certamente com uma proposta pós-moderna de desconstruir uma percepção de realidade definitiva e pré-determinada. Portanto, os elementos do livro têm o papel de contribuir para criar esse tipo de sensação. Desde o nome dos personagens até as passagens mais surreais vão apresentando contrapontos com o que, em tese, é o desenvolvimento da linha narrativa central.
Talvez o melhor resumo do livro, ou melhor, do livro falando sobre ele mesmo, seja esse trecho do diálogo entre Édipa e seu analista, o Dr. Hilarius:
“Eu vim na esperança de que você me livrasse de uma fantasia.”
“Cuide bem dela!”, vociferou Hilarius. “E o que mais vocês têm? Agarre ela cuidadosamente por seu pequeno tentáculo, não deixe que os freudianos a expulsem com sua lábia ou que os psiquiatras a ponham para fora com venenos. Seja o que for, agarre ela firme, porque ao perdê-la uma parte de você passa para os outros. Você começa a deixar de existir.”
Não será um livro do agrado de quem não está aberto a uma experiência literária um pouco mais “estranha”, no sentido de que talvez o que importe menos para esse tipo de leitura seja a coerência do desenrolar da história. Vale mais o misto de impressões de que sempre há algo ao nosso redor ao qual estamos completamente alheios.